Por que o grande problema não é o Coronavírus?

19 de maio de 2020

Loading

#PARAMEDITAR

O coronavírus vem afetando a vida de todo mundo diretamente.
Você que está lendo isso provavelmente está de home office e provavelmente viu uma parte de seu patrimônio se desvalorizar com o derretimento da bolsa.
Mas a verdade é que o problema do coronavírus pode ser pior do que algumas semanas de quarentena, pessoas morrendo e bolsas mundiais derretendo.
Com todo esse possível cenário catastrófico, os países começaram a diminuir a produção e, mais tarde adotaram a política de quarentena, onde só se sai de casa em caso de extrema necessidade, como para fazer compras.
Para se ter uma ideia de como está o mundo lá fora, dá uma olhada em como está a praia de Ipanema essa semana.
Mas o que que isso significa na prática?
Significa que a economia como um todo desaquece. As pessoas compram menos. Por conta da menor demanda, as empresas passam a produzir menos. Com menos produção, o quadro de funcionários começa a ficar inchado, então começa a demitir colaboradores.

Essas pessoas que agora estão desempregadas, têm menos incentivos para gastar porque agora precisam conter os gastos. E assim o ciclo vicioso está formado. E ele tende a esfriar cada vez mais a economia.

Mas Edu, pessoas morrendo de coronavírus e você preocupado com economia?
Sim. Na verdade eu estou preocupado com os dois, mas acredito que dependendo de como as coisas forem conduzidas, é possível que as consequências econômicas posteriores ao coronavírus sejam ainda mais devastadoras.
Por que os impactos na economia podem ser catastróficos.
Falei do filme “A Grande Aposta” num post ontem, mas vou trazê-lo de novo hoje. Em uma cena, um veterano do mercado financeiro ajuda dois gestores de um fundo pequeno a apostar contra o mercado imobiliário.
Os gestores começam a comemorar porque vão fazer muito dinheiro. Nesse momento, Ben Rickert, o veterano dá uma baita bronca neles. Ele fala que se o mercado realmente derreter, muita gente vai sofrer, perder o emprego. Mas o mais importante nessa cena para mim é o que ele diz depois:
A cada 1% a mais de desemprego nos EUA, 40 mil pessoas morrem por ano.

Um dado alarmante.

Para se ter uma ideia, no momento em que escrevo esse texto, o coronavírus matou 18.574 pessoas. Consegue entender porque tem pessoas que estão mais preocupadas com as consequências econômicas do que com o vírus?

Um por cento de desemprego a mais nos EUA mata mais do que o dobro que o coronavírus. E no resto do mundo?A diferença é que na certidão de óbito dessas pessoas não vem escrito “Desemprego”. Por isso, é muito mais difícil de identificar que a causa raiz dessas mortes.

Mas apesar de ser um dado que fica meio escondido, é um número assombroso.

A pessoa, quando demitida, tem 63% mais chance de uma morte precoce. Isso se dá por estresse por problemas financeiros, procurar emprego, etc. Além disso, hábitos ruins tendem a aumentar, como comer mal, beber, fumar, etc.
Não acredita? Dá uma olhada no estudo que afirma isso.
Os perigos que as pessoas não estão enxergando.
Quando alguém fala sobre os perigos econômicos de uma parada da economia, elas não estão preocupada se a bolsa vai ficar em níveis mais baixos do que no começo do ano. Elas estão preocupadas em colapso total. Taxa de desemprego subir, empresas falirem, faltar alimento nos supermercados.
O medo não é de uma quarentena de 14 dias. O medo é essa situação se arrastar por tempo suficiente capaz de causar um colapso mundial.
Bill Ackman, um bilionário investidor deu uma declaração falando que os EUA deveriam fazer de tudo para parar até no máximo 30 dias.
Isso significa tomar qualquer atitude para conseguir retomar a vida normal em 30 dias. Sejam elas ousadas quanto forem.
Ele disse que se o problema não for endereçado de forma séria, é possível que ele se arraste por muito mais tempo.
E o grande problema é que o capitalismo aguenta 30 dias de paralisação, mas não meses.
O grande medo é que tomemos todas as atitudes para resolver o coronavírus, mas elas façam a situação ser pior depois. Como se um paciente tivesse uma dor de cabeça e o médico desse um remédio que resolvesse a dor de cabeça, mas causasse câncer.
Por que nem sempre priorizamos certo.
O livro (“O Lado oculto e inesperado de Tudo que nos Afeta“) todo aborda dados que são contra intuitivos, provando que muitas opiniões populares estão erradas quando analisamos fatos e dados.

Por exemplo, ele traz o dado que em determinado ano nos EUA, 1 criança a cada 11.000 morreram afogadas em piscinas enquanto apenas 1 em cada milhão morreram vítimas de arma de fogo.
Se olharmos para os dados, mais crianças morrem afogadas do que por arma de fogo.
Mas ninguém se preocupa se o filho está indo para a casa de um amigo com piscina. Uma arma causa muito mais medo, mesmo que os dados digam o contrário. Esse fenômeno também pode ser visto com o case de aviões x carros.
Acidente de carro mata muito mais por ano, mas costumamos ter mais medo de andar de avião. Só para ilustrar, em 2019, 287 pessoas morreram em acidentes aéreos e aproximadamente 1,25 milhão morreu vítima de acidente de carro.

Outro exemplo que eu sempre lembro é das maiores causas de morte. A maior causa de morte do mundo é acidente cardiovascular: 17,8 milhões de mortes em 2017. Mesmo assim, gastamos muito mais dinheiro no combate ao terrorismo do que fazendo as pessoas terem hábitos mais saudáveis.

Por quê?
Porque terrorismo causa muito mais pânico do que um infarto. Mesmo morrendo muito menos gente vítima de terrorismo, temos muito mais medo dele. E isso faz com que o poder público foque no terrorismo ao invés de focar no que realmente é mais impactante no tocante a mortes.

Abaixo, um gráfico mostrando as maiores causas de morte do mundo. Enquanto acidentes cardiovasculares são responsáveis por quase 18 milhões de mortes anuais, 400 mil pessoas morrem de homicídio. Desses, uma fração é vítima de terrorismo. Assumindo que todo homicídio é terrorismo, ainda assim acidentes cardiovasculares matam quase 45 vezes mais.

Quem já leu Freakonomics já está mais familiarizado com dados que parecem estranhos a priori, mas fazem sentido quando analisamos melhor. O cenário com coronavírus é parecido com esses três exemplos. Eu já mostrei que desemprego tem a capacidade de matar MUITO mais do que o coronavírus. Mas são mortes em que a gente não pára para refletir. Já o coronavírus mata de forma devastadora: pessoas pegam um vírus invisível e começam a apresentar dificuldade de respirar. Vão para o hospital e ficam entubadas. Algumas morrem.
Por causa dos leitos ocupados, outras tantas não conseguem o atendimento necessário e acabam falecendo também.

Estamos priorizando certo agora?
O cenário de morte por coronavírus é muito mais impactante do que as mortes indiretas pela desaceleração da economia. Isso faz com que todos, hoje, foquem mais no coronavírus do que na tsunami econômica que pode vir. Quando atrapalhamos querendo ajudar. E tem mais um problema: quando lidamos com problemas de extrema complexidade, como por exemplo políticas públicas, economia, etc. muitas vezes não conseguimos enxergar consequências de 2ª ou 3ª ordem das políticas públicas. Existe uma expressão chamada “Efeito Cobra” que é justamente quando uma solução faz o problema ficar ainda pior.
Na Índia colonial, o governo britânico, preocupado com o número de cobras venenosas em Dehli criou um incentivo financeiro para cada cobra morta. O objetivo era fazer a população ajudar no combate das cobras.
O resultado foi o oposto.
A população começou a criar cobras para matar e fazer dinheiro. Quando o governo percebeu isso, tirou o incentivo. As pessoas que estavam criando cobras soltaram os animais que agora não valiam mais nada.
Resultado: o problema de cobras se tornou muito maior, mesmo com uma medida que a priori parecia ajuda, mas que trouxe consequências de 2ª ordem completamente impensadas.

Conclusão

Meu objetivo com esse texto não é cravar qual é a melhor solução para o coronavírus. Não sou médico e nem político. Existem pessoas muito mais capacitadas do que eu para tomar essas decisões.
Também não estou aqui para dizer o que está certo ou errado. Meu principal objetivo é trazer uma reflexão um pouco diferente do pensamento comum.

(by Eduardo Belotti 25/03/2020)

Post anterior

OMS Muda o Discurso

Próximo post

Zé Boni pré-candidato a Prefeitura de Curitiba em Entrevista no Programa do Dentinho

Últimas de Notícias

Vá paraTopo