#PARAMEDITAR
Mas a verdade é que o problema do coronavírus pode ser pior do que algumas semanas de quarentena, pessoas morrendo e bolsas mundiais derretendo.
Significa que a economia como um todo desaquece. As pessoas compram menos. Por conta da menor demanda, as empresas passam a produzir menos. Com menos produção, o quadro de funcionários começa a ficar inchado, então começa a demitir colaboradores.
Essas pessoas que agora estão desempregadas, têm menos incentivos para gastar porque agora precisam conter os gastos. E assim o ciclo vicioso está formado. E ele tende a esfriar cada vez mais a economia.
A cada 1% a mais de desemprego nos EUA, 40 mil pessoas morrem por ano.
Um dado alarmante.
Para se ter uma ideia, no momento em que escrevo esse texto, o coronavírus matou 18.574 pessoas. Consegue entender porque tem pessoas que estão mais preocupadas com as consequências econômicas do que com o vírus?
Um por cento de desemprego a mais nos EUA mata mais do que o dobro que o coronavírus. E no resto do mundo?A diferença é que na certidão de óbito dessas pessoas não vem escrito “Desemprego”. Por isso, é muito mais difícil de identificar que a causa raiz dessas mortes.
Mas apesar de ser um dado que fica meio escondido, é um número assombroso.
O medo não é de uma quarentena de 14 dias. O medo é essa situação se arrastar por tempo suficiente capaz de causar um colapso mundial.
O grande medo é que tomemos todas as atitudes para resolver o coronavírus, mas elas façam a situação ser pior depois. Como se um paciente tivesse uma dor de cabeça e o médico desse um remédio que resolvesse a dor de cabeça, mas causasse câncer.
Acidente de carro mata muito mais por ano, mas costumamos ter mais medo de andar de avião. Só para ilustrar, em 2019, 287 pessoas morreram em acidentes aéreos e aproximadamente 1,25 milhão morreu vítima de acidente de carro.
Outro exemplo que eu sempre lembro é das maiores causas de morte. A maior causa de morte do mundo é acidente cardiovascular: 17,8 milhões de mortes em 2017. Mesmo assim, gastamos muito mais dinheiro no combate ao terrorismo do que fazendo as pessoas terem hábitos mais saudáveis.
Porque terrorismo causa muito mais pânico do que um infarto. Mesmo morrendo muito menos gente vítima de terrorismo, temos muito mais medo dele. E isso faz com que o poder público foque no terrorismo ao invés de focar no que realmente é mais impactante no tocante a mortes.
Abaixo, um gráfico mostrando as maiores causas de morte do mundo. Enquanto acidentes cardiovasculares são responsáveis por quase 18 milhões de mortes anuais, 400 mil pessoas morrem de homicídio. Desses, uma fração é vítima de terrorismo. Assumindo que todo homicídio é terrorismo, ainda assim acidentes cardiovasculares matam quase 45 vezes mais.
Por causa dos leitos ocupados, outras tantas não conseguem o atendimento necessário e acabam falecendo também.Estamos priorizando certo agora?O cenário de morte por coronavírus é muito mais impactante do que as mortes indiretas pela desaceleração da economia. Isso faz com que todos, hoje, foquem mais no coronavírus do que na tsunami econômica que pode vir. Quando atrapalhamos querendo ajudar. E tem mais um problema: quando lidamos com problemas de extrema complexidade, como por exemplo políticas públicas, economia, etc. muitas vezes não conseguimos enxergar consequências de 2ª ou 3ª ordem das políticas públicas. Existe uma expressão chamada “Efeito Cobra” que é justamente quando uma solução faz o problema ficar ainda pior.Na Índia colonial, o governo britânico, preocupado com o número de cobras venenosas em Dehli criou um incentivo financeiro para cada cobra morta. O objetivo era fazer a população ajudar no combate das cobras.O resultado foi o oposto.A população começou a criar cobras para matar e fazer dinheiro. Quando o governo percebeu isso, tirou o incentivo. As pessoas que estavam criando cobras soltaram os animais que agora não valiam mais nada.Resultado: o problema de cobras se tornou muito maior, mesmo com uma medida que a priori parecia ajuda, mas que trouxe consequências de 2ª ordem completamente impensadas.
Meu objetivo com esse texto não é cravar qual é a melhor solução para o coronavírus. Não sou médico e nem político. Existem pessoas muito mais capacitadas do que eu para tomar essas decisões.
(by Eduardo Belotti 25/03/2020)